sábado, 19 de dezembro de 2015

Avião de Papel - 3

Num tempo de segundos, subiu as escadas, procurou o telefone por entre as cómodas e mesas de cabeceira. Ligou à sua mãe. A linha estava ocupada.
Começou a entrar em pânico como qualquer jovem o faria, quando, depois de ter recebido três misteriosos aviões de papel nos locais mais inteligentes para serem notados, a mãe ter desaparecido e não atender as chamadas.
Deitou-se na cama e, colocou o telefone perto dela. Passaram-se horas e horas e ainda nenhuma notícia tinha sido dada. Rosa foi à sua pasta, antiga e castanha, encostada ao pequeno roupeiro de madeira branca, já gasta.
Recolheu os três aviões e decidiu abri-los. Nos dois primeiros não havia nada para além da folha de papel amassada e com as dobragens marcadas para fazer o avião. Mas havia algo de inexplicável nas folhas, não eram brancas, eram mais amareladas, mais sujas, como se tivessem sido arrancadas de um caderno. Porém, na última folha, estava escrito, já com muitas das letras deformadas algo assim;

Os relâmpagos revoltavam-se contra a Humanidade, destruindo a Terra. 
Explodiam no coração dos habitantes, afastavam terras, zangavam mares, possuíam ventos e entristeciam almas. Ainda diziam que o pior estava para vir, deixei-a para trás, tinha-me de refugiar numa cobertura. As lágrimas misturavam-se com a chuva torrencial, cada vez mais. 
A minha mãe morreu. 

Assustada, Rosa amassou o papel. ainda sem ter consciência do que havia lido.
A ultima frase não lhe saía da cabeça por mais que ela se esforçasse para o conseguir, conseguia ouvir o sangue a latejar, o coração a bater rápido e os suspiros de nervos que dava mas não conseguia ter calma com aquela coincidência. Voltou a ligar à mãe mais uma e outra vez.
Rosa não tinha nenhum amigo com que pudesse partilhar tal acontecimento. Todos a iriam julgar pelo excerto ridículo e pela associação das coisas que a pobre menina fazia.
Passada mais uma hora de medo e um tenebroso clima naquela casa, apenas habitada por mãe e filha, Rosa decidiu ir até casa da Dona Hortênsia, uma senhora já de idade que cuidava das crianças de lá da rua quando os pais tinham de sair e que acolhia e alimentava todos os animais desabrigados. Tinha um coração de ouro, por assim dizer.
Bateu à porta, inspirou, expirou e voltou a inspirar.

-Rosa

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