sábado, 28 de novembro de 2015

Avião de Papel

Um avião de papel, que passara por toda a sala, aterrara mesmo ali, em cima da carteira de Rosa, enquanto ela tirava notas, atenta ao professor, que gesticulava cada palavra que dizia e que entoavam naquela divisão. 
Olhou em volta para tentar perceber quem havia atirado o avião, mas nenhum olhar se debruçava sobre ela. Não havia acusação possível. 
Após as aulas Rosa, pegou na sua pasta e colocou-a ao ombro, enquanto que, numa mão segurava os resumos de História que tinha feito. 
Rosa era uma rapariga sozinha, não era completamente anti sociável mas também não tinha muitos amigos, não era completamente feia mas não era uma rapariga que chamava à atenção dos galãs, ela não tinha namorado, nunca teve, mas era feliz. 
Sentou-se num baloiço enferrujado que havia no parque perto de sua casa e tirou um livro da sua pasta para ler, na página onde tinha acabado a sua leitura, pela ultima vez, encontrou uma avião de papel, mais pequeno mas idêntico ao que tinha visto poisar na sua carteira, nas aulas. Inexpressiva, pegou no pequeno avião e meteu-o no bolso da saia beije que ela tanto gostava.
Subiu toda a escadaria de pedra até chegar a casa e tocou à campainha, uma, outra e outra vez... Ninguém abria, então Rosa decidiu procurar no vaso, de pequenas rosas, onde a mãe costumava deixar a chave, escondida, quando tinha de sair mais cedo por algum imprevisto. Mas lá só se encontrava um avião de papel ainda mais pequeno do que o anterior. Rosa pegou nele e avaliou-o, de todas as formas possíveis, encostou-o ao peito e olhou em sua volta, novamente; restavam apenas duas crianças que jogavam futebol em frente a sua casa. Lembrou-se do avião que ainda tinha na pasta e do que tinha no bolso e decidiu juntar os três, na esperança de que algo, que nem ela mesma sabia, acontecesse. 
Pousou-os no chão, ordenando as ordens de aparecimento, mas nada, apenas aquela leve brisa de primavera lhe percorrera o corpo, arrepiando-a. 
Voltou a levantar o vaso, desconfiando de si mesma, de que os seus olhos não tinham mesmo visto nada, ou melhor, que tivessem observado apenas um pedaço de papel em formato de avião triangular. 
E lá estava ela, a chave dourada, já velha, debaixo do vaso. 
Colocou a chave, destrancou a porta e rodou a maçaneta. Um silêncio assustador pairava naquela sala, acendeu a luz e descalçou-se, vagueando pela casa foi gritando 'Mãe' na esperança que ela estivesse a dormir. 
O silêncio permaneceu... 
-Rosa
[definitely not the end]

Sou a Eva

Fico a pretender um recomeço todos os dias da minha vida, sabendo que tal será impossível.
Levanto-me, ainda meia sonâmbula, pego num casaco, quando me apercebo do gelo que habita aqui em casa e luto contra a vontade de passar o meu Domingo na cama, a dormir sobre a almofada molhada das lágrimas, de ontem à noite. Sou uma rejeitada, penso. 
Dirijo-me para a casa de banho e simpatizo com o meu reflexo no espelho,

-Bom dia, chamo-me Eva.